O presidente da Rússia, Vladimir Putin, recebeu nesta terça-feira (22), em Moscou, o líder de Cuba, Miguel Díaz-Canel. No encontro, os dois inauguraram um monumento em uma praça da capital russa em homenagem ao ex-ditador cubano Fidel Castro, além de prometerem aprofundar laços entre os dois países.
Curiosamente, Castro não tem nenhuma estátua em Cuba. Segundo Raúl Castro, seu irmão e também ex-ditador da ilha, Fidel era contra cultivar personalidades –prática comum em outras ditaduras.
Ainda assim, nesta terça, Putin disse a Díaz-Canel que os dois países precisam se relacionar sobre a “base sólida da amizade” estabelecida entre Castro e os líderes soviéticos. “É uma verdadeira obra de arte –dinâmica, em movimento e avançando. Cria a imagem de um lutador”, disse o presidente russo, se referindo à estátua.
A obra retrata o revolucionário cubano olhando para longe, com as mãos na cintura. “Acho que reflete a personalidade de Fidel na luta”, respondeu o atual líder de Cuba.
Coube a Díaz-Canel as principais palavras no encontro. Dirigindo-se ao Parlamento russo, ele mostrou sua solidariedade ao endossar diretamente o pretexto declarado de Moscou para enviar suas tropas à Ucrânia. “As razões do atual conflito devem ser buscadas na política agressiva dos Estados Unidos e na expansão da Otan para as fronteiras da Rússia”, afirmou.
A justificativa russa para a guerra, aliás, revoca em certa medida a crise dos mísseis de Cuba, quando a União Soviética, sob apoio de Fidel Castro, instalou mísseis balísticos na ilha, na década de 1960, ameaçando dispará-los contra os EUA. Na época, Washington também tinha mísseis do tipo na Turquia, próximo à Rússia.
Após aviões americanos identificarem a instalação dos mísseis soviéticos, Washington e Moscou se ameaçaram mutuamente e o impasse –que durou 14 dias– deixou o mundo à beira da guerra nuclear. O acordo para a retirada dos mísseis de Cuba só foi alcançado quando os EUA se comprometeram a não invadir a ilha. Secretamente, Washington também concordou em retirar seus mísseis da Turquia.
O episódio foi, recentemente, citado pelo atual presidente americano, Joe Biden, enquanto ele discursava sobre a Guerra da Ucrânia. “Não enfrentamos um possível ‘Armagedom’ desde [Jonh] Kennedy e a crise dos mísseis”, disse o democrata. Em setembro, o presidente Jair Bolsonaro também fez essa comparação.
Nesta terça, porém, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que tais crises são diferentes, ainda que, segundo ele, os dois conflitos sejam “um choque entre russos e o Ocidente liderado pelos EUA”.
Cuba está sob embargo econômico dos Estados Unidos desde 1962, após a vitória dos comunistas liderados por Castro. Os americanos também implementaram uma série de sanções contra os russos após a invasão da Ucrânia. Díaz-Canel chamou os bloqueios de injustos e arbitrários. “Temos um inimigo em comum: o império ianque que manipula grande parte do mundo”, declarou ele aos russos.
A viagem do líder cubano a Moscou, porém, não se baseia apenas no verbete “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Díaz-Canel espera que a visita ajude a impulsionar o setor energético de seu país, em meio a uma série de apagões e à escassez de combustível na ilha nos últimos meses.
Putin, por sua vez, tenta buscar aliados no cenário global e expandir seu mercado de gás e petróleo –prejudicado após o início da guerra na Europa.
Fuente FOLHA DE S.PAULO