Com a missão de superar a crise institucional que chegou ao ápice com a tentativa de golpe de Pedro Castillo, a nova presidente do Peru, Dina Boluarte, deve formar nesta quinta-feira (8) seu gabinete ministerial. Os nomes anunciados permitirão sentir o pulso da orientação de seu governo e estimar as possibilidades de que o país viva enfim algum período de estabilidade política sob nova direção.
Castillo, por sua vez, foi transferido da Prefeitura de Lima, onde estava detido pela polícia, para a sede da Direção de Operações Especiais (Diroes) –o mesmo centro em que está preso Alberto Fujimori, ditador que comandou o Peru de 1990 a 2000.
Até aqui, a primeira mulher presidente do Peru prometeu um tempo de trégua, um governo de unidade nacional e um “gabinete de todos os matizes”. Prometeu ainda que cumprirá seu mandato integralmente, permanecendo no cargo até 28 de julho de 2026 –o que a diferiria de quase todos os seus antecessores desde 2016, um retrato do nível de instabilidade do Peru dos últimos anos.
Boluarte, 60, foi uma das primeiras a chamar os atos de Castillo pelo nome na quarta-feira (7). “É um golpe que agrava a crise política e institucional, que a sociedade peruana terá que superar com estrito cumprimento da lei”, escreveu em sua conta no Twitter.
Horas depois, chegava ao Congresso convocada pelo Legislativo para fazer o juramento que a consagrou como a nova ocupante da Casa de Pizarro, sede da Presidência do Peru.
Esta quarta começou a se desenhar como o dia mais tumultuado da história recente do Peru quando Castillo fez um pronunciamento à nação decretando estado de exceção e ordenando a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições. Ao fazê-lo, o então ex-presidente distorceu suas prerrogativas previstas pela Constituição e, portanto, viu seu ato receber o rótulo de tentativa de golpe.
O Congresso, em tensão constante com o chefe do Executivo desde o início de seu mandato, na prática ignorou os desmandos de Castillo e deu prosseguimento à votação da terceira moção de vacância contra o líder populista –uma espécie de processo de impeachment.
Até a véspera, tudo indicava que o presidente sobreviveria mais uma vez à tentativa de destituição, mas as medidas inconstitucionais que ele adotou horas antes inverteram o jogo. A moção de vacância foi aprovada com 101 votos a favor, 6 contra e 10 abstenções –eram necessários 87 votos para a destituição.
A imprensa peruana, citando fontes policiais, afirma que o agora ex-presidente planejava deixar o país e fugir para o México. Segundo o jornal El Comercio, Castillo e membros do alto escalão de seu governo buscaram, mas não encontraram respaldo para a tentativa de golpe no comandante-geral e no chefe de Estado Maior da Polícia Nacional Peruana (PNP).
Os cabeças da PNP teriam então concluído que a ordem de dissolução do Congresso configurava um crime e determinado a prisão de Castillo. Para isso, acionaram, ainda de acordo com fontes do El Comercio, a equipe de segurança do próprio presidente. A ordem chegou ao motorista da van que transportava o líder peruano, que se desviou da rota prevista até a embaixada do México, conduzindo Castillo até as autoridades.
Em entrevista a uma rádio, o chanceler do México, Marcelo Ebrard, disse que seu país teria concedido asilo político a Castillo se o peruano o tivesse solicitado, mas ele não o fez. Ebrard manifestou preocupação com o cenário no Peru e disse que o presidente Andrés Manuel Lopéz Obrador acompanha o caso com atenção.
O presidente deposto permaneceu na Prefeitura de Lima por mais de sete horas. Ainda na noite de quarta, foi transferido junto com o ex-premiê Aníbal Torres para o quartel Los Cibeles, no distrito de Rimac e, de lá, partiu de helicóptero para a sede da Diroes.
Além do ditador Fujimori, pai de Keiko, a principal adversária de Castillo, derrotada na última eleição com cerca de 50 mil votos de diferença, outro ex-líder peruano ficou detido no mesmo centro. Ollanta Humala, que presidiu o país de 2011 a 2016, passou nove meses em prisão preventiva sob acusação de lavagem de dinheiro em escândalo envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht.
Fuente FOLHA DE S.PAULO