A diretora de imunização da Organização Mundial da Saúde (OMS), Kate O’Brien, elogiou a China nesta sexta-feira (20) pelo que chamou de “enorme progresso e esforço” na campanha de vacinação contra a Covid-19 em idosos, tradicionalmente a fatia da população mais vulnerável a casos graves da doença.
Segundo a diretora, Pequim caminha para chegar a todos os idosos com doses primárias e de reforço, ainda que esbarre em dificuldades na comunicação. Isso porque parte da população-alvo na China acha difícil entender as mudanças na política de enfrentamento e hesita em procurar o imunizante.
Ainda que com as ressalvas, a fala de O’Brien muda o tom das declarações da OMS sobre a Covid na China nos últimos meses. Na primeira semana de 2023, uma comissão de especialistas da entidade foi a Pequim e se reuniu a portas fechadas com cientistas chineses.
As conclusões apresentadas foram de que não havia sido identificada nenhuma nova variante do coronavírus —como temiam os países que vinham impondo sanções contra viajantes chineses—, mas que a China estaria deixando de mostrar o impacto real da nova crise sanitária que se configurou após o fim das restrições da Covid zero.
Depois de cobrar mais transparência de Pequim, a OMS disse ter recebido dados que, na prática, confirmavam a tese de subnotificação. Os números indicavam, por exemplo, uma variação de 7.100% entre o total de mortes confirmadas oficialmente pela China e o apontado pelo levantamento da OMS.
A discrepância passava, segundo a direção da entidade, pela “definição muito estrita” de morte por Covid usada pelas autoridades chinesas —que atribuíam ao coronavírus apenas os óbitos em que havia necessariamente um quadro de insuficiência respiratória.
Entre as críticas e o elogio, a China reabriu suas fronteiras, movimento que traz otimismo para a retomada da economia, mas, ao mesmo tempo, aumenta o temor acerca da alta circulação do vírus no país. Soma-se a essa preocupação os feriados do Ano-Novo Chinês, marcado pelo deslocamento de milhões de pessoas dos grandes centros urbanos para as áreas rurais, consideradas mais vulneráveis à crise.
Outra mudança importante nesse período foi a admissão por parte da China de quase 60 mil mortes por Covid em pouco mais de um mês a partir do fim das restrições mais severas. O número dez vezes maior do que a cifra oficial registrada até então indicou uma nova mudança no conceito chinês de morte por coronavírus, uma vez que o diagnóstico de Covid se estendeu a uma gama mais ampla de pacientes. Ainda assim, estima-se que o total de mortes permaneça subnotificado.
Autoridades e a imprensa estatal chinesa têm dito nos últimos dias que o pico de casos mais graves de Covid já foi alcançado nas grandes cidades, o que indicaria tendência de queda nas novas infecções.
“Já temos métodos de tratamento maduros e medicamentos eficazes para o Covid-19 e devemos fortalecer os arranjos para tratar casos graves”, disse nesta quinta-feira (19) a vice-primeira-ministra da China, Sun Chunlan. Em dezembro, às vésperas do fim da Covid zero, política da qual foi a principal articuladora durante três anos, Sun havia prometido uma “abordagem mais humana” da crise sanitária, o que foi visto à época como uma resposta à onda de protestos que se espalhou pela China em novembro.
Fuente FOLHA DE S.PAULO
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