O rosto da rainha Elizabeth 2ª, morta em setembro passado, deixará de estampar as cédulas de 5 dólares na Austrália, anunciou o Banco Central nesta quinta-feira (2). No lugar, a nota receberá uma homenagem à história indígena nacional.
A decisão foi anunciada após uma consulta ao premiê Anthony Albanese, eleito há menos de um ano. Do outro lado da nota, seguirá sendo estampada a sede do Parlamento do país da Oceania.
A morte de Elizabeth acelerou o debate sobre o futuro do país como uma monarquia parlamentarista e parte da Commonwealth. Em um referendo em 1999, a população rejeitou mudar o sistema de governo para uma república, de modo que a rainha seguiu a chefe de Estado australiana.
Com a morte da rainha, seu filho, o agora rei Charles 3º, assumiu o posto. Autoridades australianas já haviam dito que a figura dele não substituiria automaticamente a da mãe nas notas de dinheiro.
A decisão do Banco Central vem ainda em um momento no qual o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, que hoje está no poder, pressiona por um referendo para reconhecer os povos indígenas na Constituição, de modo que eles tenham de ser consultados sobre quaisquer decisões que afetem suas vidas.
O Banco Central, por exemplo, afirmou que irá consultar grupos indígenas sobre a imagem a ser colocada na nota e que levará alguns anos para que o novo design esteja pronto.
O premiê Anthony Albanese, ainda que um defensor de longa data do modelo republicano, disse após a morte da rainha que aquele não era o momento adequado para abordar no país alguma mudança política.
E o anúncio do Banco Central, como esperado, causou discordância entre diferentes partidos. Peter Dutton, líder do Partido Liberal, de oposição, disse que a decisão tinha motivações políticas. “Não há dúvidas: é uma decisão a mando do governo e acho que o primeiro-ministro deveria assumir isso.”
Já a parlamentar Lidia Thorpe, do Partido Verde e descendente de indígenas, celebrou. “Esta é uma grande vitória para membros dos povos originários, que lutam para descolonizar este país.”
Craig Foster, líder do Movimento Republicano da Austrália, uma organização não partidária, fez coro às palavras de Thorpe. “A ideia de que uma rainha cuja riqueza pessoal e os privilégios são fruto do massacre de povos originários deva figurar na moeda nacional não é justificável em um momento de verdade e reconciliação.”
Em 2021, a Austrália alterou oficialmente seu hino nacional para remover a referência ao país como sendo “jovem e livre”, em meio a reivindicações de reconhecimento de que os povos indígenas já estavam ali há muito tempo antes da chegada dos colonizadores.
Hoje a Austrália tem cerca de 798.400 indígenas —3,3% da população—, segundo dados da agência nacional de estatísticas. Eles estão divididos entre os povos aborígenes, que vivem na Austrália continental, e os povos das Ilhas do Estreito de Torres, arquipélago que faz parte do estado de Queensland, no nordeste do país.
A nota de 5 dólares australianos (R$ 17,7) é a única que carrega a imagem de Elizabeth 2ª. Já as moedas carregam a imagem do monarca britânico —as novas já com o rosto do rei Charles 3º, chefe de Estado da Austrália e de mais de dez países da Commonwealth, ainda que este seja um cargo em grande parte cerimonial.
Fuente FOLHA DE S.PAULO
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