Desde a redemocratização, quatro ex-presidentes disputaram a reeleição em seus mandatos. Apenas Jair Bolsonaro (PL) perdeu a disputa em sua tentativa, no ano passado.
O atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está em seu terceiro mandato no posto, concorreu à recondução em 2006. No meio político, já é especulado se ele tentará um quarto em 2026, hipótese que rejeitou durante a campanha eleitoral do ano passado.
Agora, em entrevista à RedeTV!, o presidente mudou o tom e disse que pode ser candidato se houver uma “situação delicada” no país. O assunto já tinha vindo à tona quando o ministro da Casa Civil, Rui Costa, defendeu, no dia seguinte à posse, a candidatura do petista em 2026.
Relembre como cada presidente brasileiro tratou a reeleição em suas campanhas e mandatos:
Jair Bolsonaro
O último ex-presidente da República dizia, já em sua campanha eleitoral de 2018, não ser favorável à recondução para o Planalto, prometendo, caso eleito, propor uma reforma política que acabasse com a reeleição para o Executivo, e diminuísse o número de parlamentares.
Apesar da promessa de campanha, Bolsonaro anunciou a apoiadores, durante uma motociata em Ceilândia, no DF, que lançaria sua pré-candidatura em um evento no dia seguinte.
Na ocasião, que teve clima de comício antecipado, o ex-chefe do Executivo fez um discurso com roupagem de candidato à reeleição.
Se é para defender a democracia, a liberdade, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja. E a certeza do sucesso é que eu tenho o exército ao meu lado. Este exército é composto de cada um de vocês
Mesmo durante a campanha para um segundo mandato, Bolsonaro disse que não se oporia ao fim da manutenção de mandato para mais quatro anos, caso o Congresso assim o decidisse.
“Obviamente, se parte do Parlamento topar uma proposta como essa, a gente entende que [um mandato de] 5 anos sem reeleição seria muito bem-vindo. Alguns falam até em diminuir o tamanho da Câmara”, disse o então presidente.
Perguntado sobre uma eventual contradição de seu comportamento político em relação a quatro anos atrás, Bolsonaro justificou dizendo ser o único candidato da direita no Brasil com poder de eleição.
“O que me fez mudar de ideia foi o quadro oposto para disputar uma eleição minha. Não tínhamos um nome, um perfil parecido com o meu. Estaríamos entregando o Brasil para o PT, o PDT ou o PSB. Seria a volta da esquerda”, declarou.
Dilma Rousseff
A primeira mulher eleita presidente da República não declarou abertamente ser contra a reeleição ou não querer disputá-la, mas enfrentou resistências com um movimento dentro do PT pedindo a volta de Lula à chefia do Executivo em 2014.
Em 19 de fevereiro de 2013, o então presidente do partido, Rui Falcão, anunciou a presidente Dilma Rousseff como candidata à reeleição em 2014.
“Eu me preocupo com a candidata do PT, a presidente Dilma. Ela é o nosso nome. [A candidatura] será homologada no devido momento, no encontro partidário convocado para esse fim”, disse Rui Falcão.
No dia seguinte, em um ato de comemoração dos 33 anos do PT e dos dez anos do partido à frente do governo federal, Dilma exaltou o antecessor.
Essa década teve milhões de construtores, mas teve e tem seu líder. Ele se chama Luiz Inácio Lula da Silva, que fechou a porta do atraso e escancarou a porta das oportunidades. E deixou entrar por ela a primeira mulher presidenta
Lula
O petista posicionou-se contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) da reeleição, votada e aprovada em fevereiro de 1997, e prometeu, na campanha de 2002, não pleitear um segundo mandato à frente do Planalto.
“Não queremos reeleição. Só queremos quatro anos para criar os alicerces para que a juventude possa construir em cima”, discursou Lula, para 4.000 pessoas, em um comício em Vitória.
Já em 2003, o então presidente não dizia se queria oito anos comandando o país, nem sinalizava que a reeleição estava fora dos seus planos. Perguntado sobre 2006, Lula afirmou: “Não, não”. Mas, logo em seguida, tratou de corrigir-se: “Veja bem, também não vou dizer que não sou [candidato]”.
Em janeiro de 2006, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, Lula disse que só definiria se seria ou não candidato à reeleição “no meio do ano” e que não tinha pressa em decidir. “Quem tem pressa são os meus adversários”, declarou à época.
Ele continuou evitando dar qualquer declaração sobre uma possível candidatura até 24 de junho de 2006, durante convenção do PT em Brasília, quando anunciou sua candidatura à reeleição. Seu vice na chapa seria mais uma vez José Alencar, do PRB.
“Hoje eu estou aqui para anunciar que sou, mais uma vez, candidato à Presidência da República. E mais uma vez me acompanha, nesta jornada, o meu querido companheiro José Alencar. Companheiros e companheiras, sou outra vez candidato não por ambição, mas porque o projeto de mudança do Brasil tem que continuar. Volto a ser candidato porque o Brasil, hoje, está melhor do que o Brasil que encontrei três anos e meio atrás, mas pode —e precisa— melhorar muito mais
Em outubro de 2007 no Palácio do Planalto, Lula rejeitou tentar uma nova reeleição em 2010, o que exigiria uma mudança na legislação.
“Eu fui contra a reeleição até o momento em que a lei perdurou, e eu fui obrigado a ser candidato à reeleição porque a situação política exigia que eu fosse o candidato”, disse o então presidente.
Lula disse ainda que poderia disputar um terceiro mandato em 2014, mas não concorreu, abrindo espaço para um novo governo Dilma. Na época, ele afirmou também que apoiaria a emenda que acabaria com a reeleição, desde que o mandato fosse estendido para cinco ou seis anos.
FHC
O tucano, presidente à época da aprovação da PEC da reeleição, era um dos entusiastas da iniciativa por motivos teóricos, acreditando que a possibilidade de manter-se no cargo gerava mais incentivos à ação política eficiente.
Ele então capitaneou a aprovação da emenda constitucional, e tentou, com êxito, a manutenção no cargo em 1998 —seu adversário era Lula. Fernando Henrique surfou no êxito do Plano Real, que à época conseguia controlar os índices inflacionários.
Entretanto reportagem publicada pela Folha revelou que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL, tinham negociado seus votos por R$ 200 mil. A oposição pediu a abertura de uma CPI para apurar o caso.
Vários nomes, porém, mobilizaram-se para barrar a investigação no caso, como Michel Temer (MDB), na época presidente da Câmara. O parlamentar impediu que a CPI fosse adiante.
Além disso, Santiago e Maia, os dois deputados que deflagraram todo o escândalo, foram expulsos do PFL, e renunciaram aos mandatos.
Nove dias depois, FHC nomeou Eliseu Padilha e Iris Rezende, ambos do MDB, como ministros do Transporte e da Justiça, o que foi avaliado como uma estratégia de distribuição de cargos em troca de apoio.
Em 2020, porém, o tucano fez um mea-culpa, e disse ter sido um erro a instituição da reeleição no Brasil.
“Devo reconhecer que historicamente foi um erro: se quatro anos são insuficientes e seis parecem ser muito tempo, em vez de pedir que no quarto ano o eleitorado dê um voto de tipo ‘plebiscitário’, seria preferível termos um mandato de cinco anos e ponto final”, afirmou em artigo publicado nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.
Fuente FOLHA DE S.PAULO