Dezenas de milhares de israelenses enfrentaram fortes chuvas neste sábado (4) para participar da quinta semana de protestos contra os planos de reforma judicial do governo do premiê Binyamin Netanyahu.
O projeto prevê a criação de um comitê para revisar nomeações à Suprema Corte e dá ao Parlamento poder para anular decisões do tribunal. Os críticos dizem que as reformas prejudicam a independência de Poderes, fomentam a corrupção, afetam os direitos das minorias e privam o sistema da credibilidade que ajuda a evitar acusações contra Israel no exterior por supostos crimes de guerra.
Entre os opositores ao texto estão a presidente da Suprema Corte e a procuradora-geral do país.
A reforma, que segundo o governo é necessária para conter o que seria um abuso de autoridade por parte dos juízes, também atraiu forte oposição de grupos de advogados e levantou preocupação entre líderes empresariais, ampliando divisões políticas no país.
Para Netanyahu, o projeto restaurará de volta a confiança dos israelenses na Suprema Corte. Críticos do tribunal, majoritariamente alinhados à direita, acusam os juízes de invadir cada vez mais a esfera política e de ultrapassar sua autoridade para seguir uma suposta agenda de esquerda.
O premiê afirma que os protestos são causados pela recusa da oposição em aceitar os resultados da eleição de novembro do ano passado, que o reconduziu ao poder —mas agora à frente da coalizão mais à direita da história de Israel.
Os manifestantes afirmam que a democracia israelense corre riscos se o governo conseguir aprovar seus planos, que estreitam o controle político sobre as nomeações judiciais e limitam os poderes da Suprema Corte em reverter decisões do governo e leis do Parlamento, o Knesset.
“Estou aqui protestando contra a transição de uma democracia para uma autocracia”, disse Dov Levenglick, 48, um engenheiro de software, em Tel Aviv.
Hadar Segal, 35, também protestava na mesma cidade. “Eles querem destruir o Judiciário e a democracia israelense. Estamos aqui todas as semanas para lutar contra isso.”
O líder da oposição e ex-premiê Yair Lapid compareceu às manifestações na cidade costeira de Haifa. “Os manifestantes vieram para salvar o país e nós viemos protestar com eles”, disse.
No fim de janeiro, Netanyahu destituiu um de seus ministros mais próximos, Aryeh Deri, cumprindo decisão da Suprema Corte em meio à crise com o Judiciário devido à proposta de reforma. Deri tinha uma condenação anterior por fraude fiscal —ele confessou o crime no ano passado, como parte de um acordo para escapar da prisão.
Um dos protestos, que aconteceu dias antes da destituição, reuniu 80 mil críticos à reforma apresentada pelo governo. Em reunião com seus ministros, Bibi –como o premiê também é conhecido– disse que a maior manifestação popular são as eleições e que, por isso, sua gestão tem legitimidade para avançar com a proposta.
Fuente FOLHA DE S.PAULO