Arábia Saudita e Irã restabeleceram laços diplomáticos nesta sexta-feira (10), sete anos após uma ruptura que havia escalado as tensões no Golfo e contribuído para a instabilidade do Oriente Médio como um todo. Principais potências muçulmanas da região, mas lideradas por facções religiosas rivais —sunita no caso de Rijad, xiita no de Teerã—, os dois países apoiam lados opostos de várias zonas de conflito próximas.
A conciliação foi mediada pelo principal diplomata da China, Wang Yi, junto às maiores autoridades de segurança nacional de cada uma das nações. Tentativas recentes de mediação haviam sido realizadas pelo Iraque e Omã, em 2021 e 2022, respectivamente, sem sucesso.
Pequim tem interesses em ambos os países —além de manter uma parceria estratégica com Teerã, o gigante asiático ainda é um dos principais compradores do petróleo saudita. Ao se pronunciar sobre o acordo, negociado na capital chinesa no início do mês, Wang afirmou que ele é uma vitória do diálogo e da paz. Em filmagens exibidas na TV iraniana, sua voz pode ser ouvida recomendando sabedoria aos representantes dos países do Oriente Médio.
A retomada dos laços também foi confirmada por veículos de imprensa estatais da Arábia Saudita e do Irã, que salientaram o respeito à soberania e à não-interferência em questões domésticas. A expectativa é de que os regimes reabram suas respectivas embaixadas em dois meses.
A imprensa saudita ainda noticiou que os países também teriam concordado em reativar um acordo de cooperação na área de segurança assinado em 2001, além de um tratado anterior do campo comercial.
As duas potências do Oriente Médio duelaram por anos, e apoiam grupos rivais nas guerras civis do Iêmen e da Síria, além de outros conflitos. No Iêmen, o Irã respalda os rebeldes houthis, enquanto a Arábia Saudita lidera a coalizão militar que defende o governo; na Síria, os iranianos são um dos poucos aliados do regime de Bashar al-Assad, enquanto os sauditas apoiam os dissidentes.
A ruptura diplomática entre os países teve como estopim a invasão da embaixada saudita em Teerã depois que Rijad executou um proeminente clérigo muçulmano xiita, Nimr Al Nimr, por terrorismo. Centenas de muçulmanos contrários à decisão atacaram o local com pedras, paus e coquetéis molotov, incendiando uma das alas da representação diplomática.
Mais recentemente, a Arábia Saudita acusou o Irã de realizar ataques com mísseis e drones a petrolíferas em seu território e a navios petroleiros sauditas no Golfo, o que o regime xiita nega.
Os Estados Unidos afirmaram ver com bons olhos a retomada dos laços entre as nações. “De forma geral, saudamos quaisquer esforços que ajudem a dar um fim à guerra do Iêmen e desescalar tensões na região do Oriente Médio”, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano.
Iraque e Omã também aplaudiram a reaproximação —Bagdá chamou o acontecimento de uma “virada de página” na relação entre os territórios.
O Irã afirmou que o acordo foi apoiado pela autoridade máxima do regime, o aiatolá Ali Khamenei. Ao se pronunciar sobre a notícia no Twitter, o ministro das Relações Exteriores do país, Hossein Amirabdollahian, indicou este pode ser o primeiro passo de outros na busca de Teerã por normalizar relações diplomáticas com os demais países do Oriente Médio.
A retomada dos laços com os sauditas parece ser uma tentativa do regime, alvo de uma série de sanções ocidentais, de romper com o isolamento regional a que vem sendo submetido nos últimos anos. Em 2020, Bahrein e Emirados Árabes Unidos se uniram a Egito e Jordânia no reconhecimento de Israel como Estado a partir da assinatura dos Acordos de Abraão.
Fuente FOLHA DE S.PAULO
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