
O grupo de direitos humanos Anistia Internacional classificou o convite ao ditador sírio Bashar al-Assad para participar da cúpula climática COP28 da ONU de uma “piada de mau gosto”, enquanto os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido defenderam o direito do anfitrião de fazê-lo.
O líder sírio, que foi convidado para a conferência COP28 na semana passada pelo país anfitrião, os Emirados Árabes Unidos, não participa de uma cúpula global desde o início da devastadora guerra civil em seu país, em 2011.
Mas a Síria foi readmitida na Liga Árabe neste mês e Assad foi calorosamente recebido em sua reunião na semana passada, enquanto a Arábia Saudita liderava esforços para melhorar as relações na região.
O Conselho de Segurança Nacional dos EUA disse em comunicado ao Financial Times que “cabe aos Emirados Árabes Unidos quem eles convidam para a COP”. Mas os EUA “não têm planos de normalizar as relações” com o regime de Assad sem um “progresso real” na resolução do conflito na Síria, acrescentou.
O governo do Reino Unido também disse que os convites para a COP28 são “uma questão do país anfitrião” e da ONU. No entanto, o governo britânico “continua se opondo ao envolvimento com o regime de Assad e acreditamos que deve ser responsabilizado pelos abusos e violações dos direitos humanos que cometeu”.
O braço climático da ONU também disse que os EAU, como anfitriões, são responsáveis por convidar chefes de Estado e de governo, e observou que a Assembleia-Geral da ONU tem “restrições em vigor para dois governos, Afeganistão e Mianmar”.
A Anistia Internacional disse que o convite a Assad para a COP28 não é “remotamente relacionado ao enfrentamento da crise climática“, mas “parte de um processo de normalização insidioso projetado para manter a impunidade dos líderes em toda a região”.
“Dado que as forças de Assad usaram armas químicas e arrasaram vilas e cidades inteiras numa campanha militar assassina de terra arrasada, é uma piada de mau gosto imaginar que ele terá o menor interesse em lidar com a crise dos direitos humanos da mudança climática”, disse Kristyan Benedict, gerente de resposta a crises da Anistia Internacional no Reino Unido.
A Human Rights Watch disse que é “inconcebível que um governo escape impune de tais crimes persistentes contra a humanidade sem qualquer responsabilização”.
Os Emirados Árabes Unidos, junto com a Arábia Saudita, vêm reatando gradualmente as relações com Assad. Apesar da resistência de alguns outros Estados árabes, as autoridades dos Emirados têm se envolvido com o Estado pária em questões como o retorno de refugiados e a repressão ao tráfico do narcótico Captagon, que se tornou uma tábua de salvação econômica para Damasco.
No sábado, o grupo de países do G7 disse que a comunidade internacional “só deve considerar a normalização e a assistência à reconstrução quando houver um progresso autêntico e duradouro na direção de uma solução política” na Síria.
Os anfitriões da COP28 justificaram o convite a Assad dizendo que a cúpula está comprometida com “um processo inclusivo”.
Em 2010, o relatório de mudanças climáticas da Síria submetido à ONU observou que as secas recorrentes e agravadas “reduziram o abastecimento de água disponível” e que “a maioria das cidades sírias atualmente tem um déficit de abastecimento de água”.
A cúpula COP28 atraiu críticas de ativistas climáticos desde a nomeação, no início deste ano, de Sultan al-Jaber, chefe da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, como presidente designado. Desde sua nomeação, ele defendeu a indústria de petróleo e gás.
A ativista climática de Uganda Vanessa Nakate disse que os líderes globais na COP devem “defender o interesse de todos, e não apenas de seus próprios países —ou, de fato, de suas próprias empresas”.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
Fuente FOLHA DE S.PAULO
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