O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump armazenava documentos secretos em seu resort de Mar-a-Lago, na Flórida, nos locais mais improváveis e desprotegidos, segundo a denúncia que veio a público nesta sexta-feira (9) que o coloca no banco dos réus por uma acusação criminal pela segunda vez.
De acordo com procuradores federais, havia documentos sigilosos até em um salão de festas e em um banheiro da residência em Palm Beach. Trump foi indiciado por 37 acusações, sendo 31 delas por “retenção intencional de informação de defesa nacional”, crime previsto pela lei de espionagem, além de obstrução de Justiça e falso testemunho.
Segundo os procuradores, em abril de 2021, três meses após deixar a Casa Branca, assessores do ex-presidente moveram para o banheiro do resort caixas com os papéis do governo que não deveriam ter deixado Washington. Na denúncia, de 49 páginas, há imagens do local.
Em maio, essas caixas foram levados a um depósito. De janeiro de 2021 a agosto de 2022, quando houve operação do FBI no local, os documentos foram manuseados várias vezes. Antes de irem parar no banheiro, as caixas estavam em um salão de festas do resort, diz a denúncia.
“Os documentos confidenciais que Trump armazenou em suas caixas incluíam informações sobre as capacidades de defesa e armamentos tanto dos EUA quanto de países estrangeiros; programas nucleares, vulnerabilidades potenciais dos EUA e seus aliados a ataques militares; e planos para possíveis retaliações em resposta a ataques estrangeiros.”
No período em que ocorreu a operação, houve mais de 150 eventos em Mar-a-Lago, incluindo casamentos, estreias de filmes e encontros de arrecadação de fundos, com milhares de pessoas que poderiam ter tido acesso aos documentos, segundo os promotores.
“A divulgação não autorizada desses documentos pode colocar em risco a segurança nacional dos EUA, as relações exteriores, a segurança militar e fontes humanas, bem como a continuidade da viabilidade de métodos sensíveis de coleta de inteligência”, dizem os promotores.
Poucas semanas após a posse de Biden, o governo já havia contatado Trump para tratar dos documentos. Em janeiro de 2022, o republicano entregou 15 caixas aos Arquivos Nacionais, com 197 papéis sigilosos, 30 dos quais ultrassecretos. Segundo o FBI, um acesso não autorizado a esse material poderia “resultar em dano à segurança nacional”, com documentos apontando “fontes clandestinas” que poderiam descrever operações e técnicas de agentes de inteligência no exterior.
Assim, autoridades pediram uma investigação formal sobre o manuseio dos documentos. Em agosto de 2022, uma operação do FBI em Mar-a-Lago apreendeu cerca de 13 mil documentos que não haviam sido entregues, e cem deles estavam marcados como confidenciais. Trump nega quaisquer irregularidades e afirma ter retirado o sigilo dos documentos ao deixar o governo, mas não há registro disso.
Trump abriu os documentos secretos a pessoas sem credenciais de segurança em pelo menos duas ocasiões. Em julho de 2021, no Trump National Golf Club, em Nova Jersey, deu entrevista a um escritor, um editor e dois funcionários em que mostrou e detalhou um plano de ataque ao Irã que disse ter sido preparado pela Defesa americana.
Na conversa, ele reconhece que as informações eram confidenciais. “Como presidente, eu poderia ter retirado a classificação, mas agora não posso mais, mas isso ainda é um segredo”, diz ele.
Em outra conversa, que a denúncia diz ter ocorrido em agosto ou setembro de 2021 no mesmo clube, ele mostrou a um apoiador político um mapa confidencial de uma operação militar e disse que não deveria compartilhar aquela informação.
O ex-presidente deve se apresentar a um tribunal federal em Miami na tarde de terça (13), quando as acusações serão formalizadas, e se declarar inocente. Um advogado confirmou que Trump vai cumprir o processo. Depois é que começa a correr o processo, mas ainda não há data para isso. No caso de Nova York, quando foi indiciado na justiça local pela primeira vez, em abril, a primeira audiência está prevista para março, em meio às primárias republicanas para definir o candidato à Casa Branca.
Trump enfrenta outras duas investigações que podem resultar em indiciamento. Uma delas por tentativa de interferência na eleição na Geórgia em 2020, quando perdeu para Biden.
O que pode causar mais dor de cabeça e ser usado para tirá-lo da corrida presidencial é a investigação sobre sua participação no ataque ao Capitólio, como já citado, já que a 14ª Emenda da Constituição americana proíbe que participantes de insurreições ou rebeliões ocupem cargos públicos. Ele enfrentou também um revés recente na esfera civil. Em maio, um tribunal em Nova York o condenou a pagar US$ 5 milhões à escritora E. Jean Carroll por difamação, em ação na qual ela o acusa de abuso sexual.
Fuente FOLHA DE S.PAULO
Discussion about this post